sábado, 27 de novembro de 2010

A sepultura

No opaco desfecho da noite
Quase próxima a madrugada
Onde os olhos se confundem
No calado escuro,
Alguém se esconde
Alguém se ouve chorar
De arrepio se encolhe
Sem nem sombra deixar

Um pranto leve
Quase como um suspiro
Quase como uma prece
No beco escuro,
Num mistério tremendo
No coração ferido
Por algum sentimento
É certo o castigo

E no opaco silêncio da noite
Já chegando a madrugada
Onde já não havia olhares
Onde já sem prantos
E sem suspiros
E sem mais nada
Alguém enterrou o amor
Na noite fria e calada

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Samba de amor no escuro

Escute amor o meu samba
E deleita em tua cama
Com o carinho e o prazer
Dessa música insana...

Que trança a noite
E desfecha a madrugada;
Escute esse samba de amor
De amor que transita na estrada.

E eis que vejo um dom
No teu decote escarlate
A minha voz é o tom
E teu esboço é arte...

E então te tomo nos braços
Te beijo nos lábios
Te afago os seios
E teu corpo casto.

Logo me apresso
Sussurro,
Cantarolando esse samba
De amor no escuro.






O pensamento mora no amor

Era uma casa, não era convencional. Nela morava o pensamento que pairava no ar. Que ofegava, sussurava, temia. E entre o tremor e a calma, trafegava nas veias, vértebras...sangue, coração...pulsar. E num pulso distante, batia.
E a casa tinha as portas abertas, para quem quisesse entrar. E à ela visitaram a insegurança, o desespero e a esperança. E em seus espelhos muitos se olharam. E em sua sala, muitos dançaram. E na sua mesa, muitos comeram. Na sua cama, muitos dormiram. Amaram. (A casa era o abrigo)
O pensamento às vezes solitário, tornava-se espectro no espaço, no corpo, na mente. Era o habitante, o morador. A casa era tão pouco um território. A casa era o seu lugar. A casa era o amor.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Trinta milhões de miseráveis

Trinta milhões de miseráveis

Sobem os morros

E descem vazios

Com febre, bexiga

Homens vadios

Trinta milhões de miseráveis

Suam o trabalho

Exalam seu cheiro

De fome, de guerra

São homens da terra

Trinta milões de miseráveis

Juntam seus trapos

Embebedam a alma

Engolem a seco

A dor e a calma

Trinta milhões de miseráveis

Calos nos pés

Areia do cais

Uns dias até

Outros jamais

Trinta milhões de miseráveis

Trinta milhões de miseráveis

Trinta milhões de miseráveis

Com febre, com fome

Com trapos de guerra

Exalam o trabalho

Engolem a terra

sábado, 3 de abril de 2010

Jabuticabeira


Em cima daquele pé

De jabuticaba

Tem um menino

Sempre que cai a tarde

E invade o quintal

Ele sai de fininho

E como quem não quer nada

Sobe na jabuticabeira

E se ouve o barulhinho

Ploft, ploft

É o menino

Na jabuticabeira

Comendo, comendo

Sem eira nem beira.

Quintal


Aqui nesse quintal tem
Tem pé de fruta
Tem
Tem riacho
Tem
Tem bola e chuva?
Tem
Tem menino e árvore?
Tem
Tem descanso
Tem remanso
Tem
Tem cansaço
Tem espasmo
Tem
Tem os pássaros
Tem os rastros
Na areia
Pés descalços
Tem
Tem rosal
Tem temporal
Aqui tem
O mundo inteiro
No quintal

sexta-feira, 2 de abril de 2010