segunda-feira, 20 de julho de 2009

Linha e dó

Essa bonequinha que de pano é feita e coberta de ouro e poesia encanta a criança, enfeita a prateleira, e mesmo jogada em cima da cama sorri com apreço, uma flor na cabeça, um lenço no peito. Um dia à janela olhava o jardim. Outra vez no armário coloria o espaço apertado. Prozeava com a menina, na areia encardia, sentia a magia do dia. Era frágil e tão forte, algumas vezes esquecida suportava a dor, outra que era mimada derretia sem pudor. Queria proteção mas nem sempre a tinha. Às vezes lhe vinham com agulha e linha e dó. Linda bonequinha, enroscava seu vestido, desmanchava seu cabelo, desfazia seu fascínio. Triste no abandono, solidão. Mas sorrisos sinceros, compaixão. Fazia a alegria sem querer nada em troca, em vão.

Material de amor

Ao te lançar olhares, sinto a sua parte em mim, no fundo do peito, dá-me palavras à boca. Repare os meus versos. Olha pra mim, sem rima, sem jeito, sem ginga. Agora até meu tom mais desafinado fala do meu amor. Meus dedos gelados tocam no ar sua silhueta provida da minha mais delirante imaginação. Papéis se partem e são atirados nos cantos vazios. Sinto a confusão das estrofes mal acabadas. Sentimentos incapazes de serem ditos ou escritos, são apenas sentidos. Queria ‘’poetar’’ até que minhas palavras transbordassem e alcançassem seu peito. Posso te cantar, te ninar, te abraçar, até aprender a dançar. O mundo é o centro do seu universo de ritmo e se tornou dentre os meus mundos o mais importante universo. E você corre tanto que não percebe, e eu observo, de longe, de perto. Inspiro e lhe ofereço esses versos. Transcrevo-te na areia e te guardo para que não desgastes tua poeira. E te ofereço humildemente esses versos.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poema tépido

Eu só queria cantar, até que as peredes pudessem ouvir. Mas me pediu que recitasse tal poema e, a partir do momento que concedi pude ouvir sua declamação. Apeguei-me por ti, poeta abrasador. Em mim não existia resquícios de concentração, apenas toda minha atenção ao seu tom vibrante e romântico. Agora eu já cantava inconstante e queria que a melodia não pudesse acabar, para ouvi-lo dizer aqueles versos. Então minha ingenuidade fez com que eu fechasse os olhos e imaginasse coisas, via claramente sua parcela de culpa nisso. Minha voz tremia, meus dedos gelados tocavam as cordas com pouco rítmo, tranpirava um suor frio que me consumia...era quando dizia... "Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"