segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poema tépido

Eu só queria cantar, até que as peredes pudessem ouvir. Mas me pediu que recitasse tal poema e, a partir do momento que concedi pude ouvir sua declamação. Apeguei-me por ti, poeta abrasador. Em mim não existia resquícios de concentração, apenas toda minha atenção ao seu tom vibrante e romântico. Agora eu já cantava inconstante e queria que a melodia não pudesse acabar, para ouvi-lo dizer aqueles versos. Então minha ingenuidade fez com que eu fechasse os olhos e imaginasse coisas, via claramente sua parcela de culpa nisso. Minha voz tremia, meus dedos gelados tocavam as cordas com pouco rítmo, tranpirava um suor frio que me consumia...era quando dizia... "Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Um comentário:

  1. Trecho retirado do livro "Primo Basílio" de Eça de Queirós e recitado na música "Amor I Love You" de Marisa Monte.

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