quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Marília

Ela dançava tão cheia de vez

Rodava e tomava toda beleza da noite

A lua tão límpida confundia sua luz com a de Marília

E depois saia depressa

E o salão parecia vazio

E nem mais as luzes da noite brilhavam agora

E nem mais o sol viria feliz

E nem eu dormiria sem ela

Sem o rodar de Marília

Sem seu olhar

Sem o brilho desse olhar

E volta Cecília

E volta Maria

E voltam mulheres da minha vida

Mas nunca Marília.

Sambinha

Quando eu paro a olhar

Penso que este não é meu lugar

E sinto meu peito apertar

Uma vontade me vem de voar


Quando me ponho a sorrir

Assim sem saber bem por que

Sei que eles pensam de mim

Esse estranho ta rindo de que?


Esse não é meu lugar

Esse não é meu lugar

Aqui uma lágrima vem

Uma lágrima vai

Aqui não tem céu pra ninguém

Aqui o amor é que sai


Mas quando eu nasci

Logo descobri meu fascínio

Não era ficar por aqui

Nem atar meus pulsos meninos


Amanhã vou pegar uma nave

Sair de fininho pro nada

Quem sabe faz dia de sol

Enquanto estiver na estrada..

domingo, 15 de novembro de 2009

Uma coisa só minha

Um dia desses me coloquei dentro de uma saia preta de bolinhas brancas, era nada nova e não fora minha assim de primeira. Minha mãe na sua solteirisse havia se enamorado dela, uma coisa completamente perdoável já que fazia parte da moda da época, se apossou da desejada peça.
Com certeza era quase histórica, nem pelo tempo, mas pelas coisas que ela viveu junto das pernas, dando forma às coxas, com um ar romântico no seu recorte. E eu a adorei desde o início, assim que a vi pendurada num cabide. Mas ainda não tinha aquelas pernas, aquele corpo, aquela altura para usá-la, eu era uma ainda criança.
Mas o meu desejo de vesti-la era uma coisa forte e quando via minha mãe se postando dentro dela ficava fascinada, meu pai a elogiava cem vezes, ele também devia ter um grande afeto pela saia.
Mas quando a minha meninice me dava capacidade para me deliciar com sua seda, a pedia sempre emprestada. Ninguém na idade em que eu estava achava aquilo encantador, era uma coisa só minha.
E desfrutando agora dos meus 20 anos, minha mãe chamou-me no quarto e me deu um paninho preto de bolinhas brancas embrulhadinho e disse que era toda minha, era ela, a agora minha saia, uma coisa só minha mesmo.
Talvez os homens da minha idade não a admirassem tanto e tão pouco a elogiariam, mas quando meu pai me vê vestida com ela, me faz cem elogios.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vamos brincar, amor?

Vamos brincar amor? Jogar peteca? Fazer molecagens?...Vamos mudar o mundo amor?Depois nos mudamos pra La, que tal?...Vamos amor... Viver a vida... Sair de fininho, sem pressa de amar...

Vamos amor, vamos amor... Fingir que hoje é domingo?Vamos sofrer as dores da alma? Pagar os pecados e as promessas?Receber os milagres?...O mundo nos espera... A chance é agora... O dia é este... Não deixe passar amor...

Vamos dançar?Rodopiar?...Saltitar pelos campos? Gritar a paz?...Vamos amor? Sentir o vento? Tomar um porre? Afogar-nos na praia? Ver o sol nascer? Vamos criar um novo caminho? O nosso destino?...A vida é bela!

Vamos brincar de viver!

E se eu fechar os olhos?

De olhos fechados podemos enxergar muitas coisas...
...Podemos sentir!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Bailarina

Uma música lenta, ouvidos aguçados, sentidos aflorados, os olhos em êxtase, os lábios em carne;
O palco é o espaço, as cortinas em mágica abrem o espetáculo, um cenário em clima, uma platéia em fervor;
Um olhar sombrio, uma fachada, por dentro da tristeza e da loucura que apossam da alma;
Os gestos lentos trazem o brilho da arte encenada com o corpo tão distante da mente que vaga por outros mares;
Inaugura a cena, os pés em ponta, rodopia, inclina-se, contagia...equilibra-se...
Seus olhos verdes de éter encantam como a lua...
Dançarina de olhar dormente se enche de doçura...
E encerra o espetáculo na noite calma e pura.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sentidos

Pegue meus olhos, veja
Refletem essa luz tão repleta de certeza
Sinta no palmo das suas mãos
O meu corpo de pureza
Tão ressequido na amplidão
Contemplado de braveza
Pegue os meus lábios, toma
Sinta esse dom de aroma
Amor não se dá, se soma
Ouça a canção, ame
No balanço do chão, clame
E junte os teus sentidos
Como cacos desvalidos
Desampara o coração
Que no fundo sem razão.

Sem ponto final

Quero minha vida mesmo sem ponto final.
Porque o fim é a despedida do que me faz feliz.
Viajar no tempo sem pressa, atemporal.
Sentir o vento, vendaval.
Agora sento, penso.
Minha vida sem ponto final.
Minha vida solta no céu, no mar.
Andar, voar
Cantar,...ah, cantar!!

Palco

A bailarina vai se apresentar no teatro municipal...
O palhaço vai estar no circo meu bem...
O músico já tem platéia...
A princesa já está no trono...
O trabalhador acorda às seis e toma um ônibus...
E o executivo toma lentamente o café...
Até mesmo o sol já brilha...
Os políticos já discutem as novas leis...
Os jovens as contestam...
Onde estamos meu bem?
Perdidos num ensaio?
Num ensaio da vida...
Que nos prega uma peça...
Fazemos parte dele amor...
Deveríamos estar felizes?
Os namorados já estão na praça...
A banda já está nas ruas...
O padre já está na igreja...
As moças na janela...
O menino já entrega o jornal...
As fábricas já funcionam...
Meu barquinho já está na fonte meu bem...
Vamos navegar...
Artistas navegam...
As crianças estão nas casas de árvores...
Alguém viu nossa casa?
Ah! O palco é nossa casa!

domingo, 9 de agosto de 2009

Literatura de cordel - ''O Chico e a Rosa''

Está ali a moçinha, linda e formosa
Cumprimenta o ‘’compadre’’
Num passinho de prosa
Eita, que moçinha dengosa!
Certo dia, o filho do padeiro a viu passar toda cheirosa
Apaixonado ficou e cheio de amor
Decidiu ganhar essa flor amorosa
Mas a doce menina
Já tinha traçada sua sina
Casar-se-ia com o filho do fazendeiro
Com tudo ajeitado na igrejinha da esquina
O rapaz apaixonado
Chamava-se Chico mal amado
E de dores chorava
Seu amor despedaçado
Até que certo dia
Uma velha o vendo passar
O chamou e disse bem devagar
Preste atenção meu caro jovem
Sua vida vai mudar
Pegue essa poção que lhe aconselho tomar
E faça na mesma hora um pedido
Que ele irá realizar
O Chico tomou de uma só vez
E logo um pedido fez
O amor da moçinha
Sua linda Rosinha
E contando até três
O casamento dela se desfez
E os dois se apaixonaram
E logo se casaram
E eu conto pra vocês
Que muito felizes eles ficaram

Cotidiano (pra dizer que te amo)



Não ando mais a par do que se passa nesse mundo de martírio, e me martirizo a pensar, me perco. Vejo a casa vazia, tomo um café, estudo minhas letras, leio as histórias, tomo um café. Não pego o jornal, ignoro o governo, estudo minhas letras, leio as histórias, tomo um café. Risco papéis, componho canções, canto minhas letras, conto as histórias, tomo um café. A tarde cai, leio um bom livro, sussurro Vinícius, dedilho seu samba, sinto minhas letras, estudo as histórias, tomo um café. E a noite chega e a mesa do bar de esquina, a boemia, aquela bossinha, um violão, um pedido, dois até, rascunho uns versos, liberto meu riso, conto uns causos, falo de amor, te entrego minhas letras, te enquadro nas histórias e tomo um café. Adormeço e a madrugada já se faz dia, e vivo a rotina, estudo minhas letras, leio as histórias, tomo um café...eu só quero dizer, que amo você.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Linha e dó

Essa bonequinha que de pano é feita e coberta de ouro e poesia encanta a criança, enfeita a prateleira, e mesmo jogada em cima da cama sorri com apreço, uma flor na cabeça, um lenço no peito. Um dia à janela olhava o jardim. Outra vez no armário coloria o espaço apertado. Prozeava com a menina, na areia encardia, sentia a magia do dia. Era frágil e tão forte, algumas vezes esquecida suportava a dor, outra que era mimada derretia sem pudor. Queria proteção mas nem sempre a tinha. Às vezes lhe vinham com agulha e linha e dó. Linda bonequinha, enroscava seu vestido, desmanchava seu cabelo, desfazia seu fascínio. Triste no abandono, solidão. Mas sorrisos sinceros, compaixão. Fazia a alegria sem querer nada em troca, em vão.

Material de amor

Ao te lançar olhares, sinto a sua parte em mim, no fundo do peito, dá-me palavras à boca. Repare os meus versos. Olha pra mim, sem rima, sem jeito, sem ginga. Agora até meu tom mais desafinado fala do meu amor. Meus dedos gelados tocam no ar sua silhueta provida da minha mais delirante imaginação. Papéis se partem e são atirados nos cantos vazios. Sinto a confusão das estrofes mal acabadas. Sentimentos incapazes de serem ditos ou escritos, são apenas sentidos. Queria ‘’poetar’’ até que minhas palavras transbordassem e alcançassem seu peito. Posso te cantar, te ninar, te abraçar, até aprender a dançar. O mundo é o centro do seu universo de ritmo e se tornou dentre os meus mundos o mais importante universo. E você corre tanto que não percebe, e eu observo, de longe, de perto. Inspiro e lhe ofereço esses versos. Transcrevo-te na areia e te guardo para que não desgastes tua poeira. E te ofereço humildemente esses versos.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poema tépido

Eu só queria cantar, até que as peredes pudessem ouvir. Mas me pediu que recitasse tal poema e, a partir do momento que concedi pude ouvir sua declamação. Apeguei-me por ti, poeta abrasador. Em mim não existia resquícios de concentração, apenas toda minha atenção ao seu tom vibrante e romântico. Agora eu já cantava inconstante e queria que a melodia não pudesse acabar, para ouvi-lo dizer aqueles versos. Então minha ingenuidade fez com que eu fechasse os olhos e imaginasse coisas, via claramente sua parcela de culpa nisso. Minha voz tremia, meus dedos gelados tocavam as cordas com pouco rítmo, tranpirava um suor frio que me consumia...era quando dizia... "Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

terça-feira, 30 de junho de 2009

O que fazer com a sua fé?

Um dia desses alguém me disse que algumas vezes é preciso ‘’mudar de ares’’ para nos encontrarmos.
Certo dia quando viajei à Brasília e tinha passado por algumas situações desagradáveis, percebi o quanto a vida (ou Deus, ou qualquer sobrenatural) nos surpreende. Recebi a visita de verdadeiros anjos que me disseram que não deveria temer meus pesadelos, não deixar que meus medos me afligissem...e que chorar nem sempre é sinônimo de fraqueza.
...o mundo é assim,
você pode nunca saber
onde depositar toda a sua fé,
e como ela irá crescer?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tão pouco é demais?

É possível mudar o mundo através das borboletas?
Se ‘’Tão pouco é demais’’ eu diria que sim...
Já que podemos mudá-lo através da poesia!
[‘’ Tão pouco é demais’’ foi o nome dado ao curta metragem apresentado no projeto Oficinas Telebrasil no Cinemark de Campo Grande no dia 20 de Junho, por volta das 11h... Parabéns a competentíssima equipe!]

terça-feira, 23 de junho de 2009

Desafinando

Se você disser que eu Desafino, amor
Saiba que isto Em mim provoca imensa dor
Só privilegiados tem um ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu
Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo Argumentar
Que isto é bossa nova que isto é muito natural
O que você não sabe e nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Roleyflex
Revelou-se a sua enorme Ingratidão
Não poderá falar assim do meu amor
Ele é o maior que você pode encontrar, viu
Você com A sua música esqueceu o principal
É que no peito dos Desafinados
No fundo dO peito bate calado
No peito dos desafinadoS
Também bate um coração.

Baião de três

Todos olhavam as bandeirinhas coloridas lá no alto, poucos dançavam, outros apenas observavam e ‘chacoalhavam’ o corpo devagar, assim meio sem ritmo, meio sem ginga, quase sem querer.Ela com seu passo tímido tomou a ladeira e com o molejo mais atraente despertou olhares. Agora o vermelho picante do seu vestido rodopiava sem que fosse possível parar para acompanhar. Três deles queriam entrar na dança, um recuou, outro arriscou e o último o seguiu.Deram-lhe uma rosa e ‘’gingaram’’ junto dela. Agora um círculo de pessoas os cercavam querendo mesmo era saber o fim da história. Esse ‘’baião de três’’ quase se fez ‘’quadrilha’’ quando um deles apegou-se por ela que teve afeto pelo outro.A revolta do ‘’mal amado’’ o fez ferir seu adversário e depois seguiu seu rumo. A jovem que não o quis, encontrou no frevo o amor do manhoso boêmio que nem do ‘’causo’’ era sabido.

Conversas ao vento

Estava um dia desses em casa a procura de algo para escrever e então uma amiga me ligou dizendo que passaria para irmos tomar um sorvete e ‘’jogar papo fora’’ como se diz. Aceitei o convite e então nos encontramos. Chegando lá, um lugar legal, bem arejado, com algumas mesinhas externas, uma decoração ‘’verde limão’’ e servia sorvetes de frutas típicas da região, além dar com a frente para um parque fechado, bem arborizado onde as pessoas costumam levar as crianças para brincar, onde muitas caminhavam, entre outras coisas.E pensando bem, esse lance de ‘’jogar papo fora’’ foi um tanto interessante, pois surgiram assuntos sobre cinema, falamos sobre as experiências que estávamos tendo na faculdade, sobre arte, filosofia, enfim, coisas que me fizeram refletir.Um assunto que sempre discutimos é cinema e, até porque somos ‘’fãs’’ desses programas caseiros. No entanto temos um gosto eu diria um pouco fora do comum para não dizer ‘’estranho’’. Filmes americanos, por exemplo, existem finais mais previsíveis como ocorre nestes?! Claro que têm aqueles que nos surpreendem com uma boa história, mas sempre possuem um jeito ‘’americanizado’’ de atuar que não me agrada muito.Um filme bom não seria apenas uma boa história, mas também, um bom enredo, uma boa atuação, um bom cenário, com um bom clímax, e algo de comovente, além de ‘’um quê’’ de sarcasmo e algumas metáforas que nos fazem pensar.Chegar a uma locadora e vasculhar a sessão de comédia e romance americano não faz meu estilo, a não ser que seja humor negro (muito mais interessante) ou romance dramático, histórico, com algo surpreendente. Considero que ler resenhas também seja tarefa fundamental na escolha do filme. Não sou ‘’expert’’ no assunto, mas para quem ainda não teve experiências com esses estilos mais ousados de se ‘’fazer cinema’’, vale tentar. E não dispense oportunidades de ‘’jogar conversinhas ao vento’’.

Conheces História?


Viajei com minha família para passar parte das férias em Porto de Galinhas, Recife - PE e além de me surpreender com a beleza natural do lugar, percebi o quanto tudo envolve História. A caminho da praia o guia nos explicava a origem do nome. A denominação surgiu a partir do tráfico de escravos e como ''a lei'' já havia proibido essa ação os senhores utilizavam de códicos para explicar que chegavam mais negros. No início diziam: '' tem galinha nova da Angola no Porto!'' e esse termo foi sendo reduzido até que deu origem ao que conhecemos hoje.
Mas isso não foi tudo, descobrimos que a economia atual do Nordeste, mais especificamente Pernambuco, onde não prevalece o sertão àrido, é baseada no Turismo e principalmente nas plantações de cana, que devido ao relevo ainda é cultivada de forma primitiva, ou seja, sem utilização de máquinas.Já de volta, optamos por passar o dia em Recife e Olinda. E novamente com a ajuda de um guia turístico tivemos acesso as casas antigas que se 'enfeitavam' de diversas cores para que (como não possuiam números), pudessem ser identificadas.
As prisões antigas, onde abrigavam em sua maioria escravos, nos faz reviver um pouco de tudo que nos é contado, as ladeiras por onde descem e sobem os frevistas no carnaval dando com a mão para as freirinhas nas janelas dos conventos e as igrejas antigas com seus altares cobertos por um ''véu'' de ouro são muito empolgantes.
E para quem curte a ''magia'' da História...

A peça

Ai de mim, que sou espetáculo da vida
Que habito nesse palco
Que enceno, ensino e aprendo...
Ai de todo ser que vive nela
Que vive por entre as máscaras
Que por ela sofre, sente e zela

Somos todos os fantoches
Somos os artistas, atores
Para a vida somos a razão
Essa gente anda,anda, corre
Vive, vive, morre
E na fé, a oração

Há pelos caminhos
Flores e também espinhos
Que ferem o coração
Na vida o que permanece
É a alma que não padece
Pois o corpo se está no chão